História
A expressão latina Corpus Christi significa “Corpo de Cristo”.
É uma comemoração católica, cujo nome litúrgico completo é Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Mesmo sendo corriqueira a abreviação em latim, não é de uso universal. Na Itália, por exemplo, o mais comum é se falar em Corpus Domini, “o Corpo do Senhor”.
A solenidade tem a sua origem no século XIII, a partir das inspirações de uma monja agostiniana conhecida como Santa Juliana de Cornillon, que viveu em Liége, na Bélgica. Aos 16 anos, ela teve uma visão na qual se via a Lua, toda brilhante, atravessada por uma faixa escura. Na oração, compreendeu que a Lua representava a vida da Igreja na terra e a faixa sem luz significava a ausência de uma festa litúrgica dedicada à Eucaristia.
Juliana manteve em segredo a sua visão por cerca de vinte anos. Depois de ter assumido a liderança do convento em que vivia, confidenciou a visão a outras duas religiosas e a um padre, ao qual pediram que sondassem entre os clérigos e os teólogos o que pensavam da proposta. A resposta foi positiva e o bispo de Liége – cidade já conhecida por seu fervor pela Eucaristia – instituiu a festa na sua diocese, sendo em seguida imitado por outros bispos.
Foi o papa Urbano IV, que havia conhecido Juliana antes de se tornar pontífice, que estendeu a comemoração a toda a Igreja, com a bula Transiturus de hoc mundo, em 1264, seis anos depois da morte de Juliana. A data fixada – e estabelecida como dia de preceito, ou seja, de obrigatoriedade de ir à missa – foi a segunda quinta-feira após a solenidade de Pentecostes, que ocorre, por sua vez, no sétimo domingo a partir da Páscoa.
Festejar a Eucaristia
A data veio ao encontro da ausência de uma comemoração no calendário litúrgico da Igreja Católica dedicada especialmente à exaltação da Eucaristia, o pão e o vinho que, segundo a fé católica, ao serem consagrados na missa com a repetição do gesto e das palavras de Jesus na última ceia, o tornam presente de modo “verdadeiro, real e substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 282).
O dia mais propício seria o da instituição do sacramento da Eucaristia, isto é, a Quinta-feira Santa, mas o clima da celebração desse dia, que se encerra com a perspectiva da prisão e da morte de Jesus, não é o mais adequado a uma comemoração festiva. Inserido no Tempo Comum do calendário litúrgico, o dia de Corpus Christi dá espaço a manifestações mais expressivas e alegres da devoção dos fiéis, como a rica decoração que, em muitos lugares, inclusive no Brasil, se caracterizou pela confecção de tapetes para a procissão com a Eucaristia, feitos principalmente com serragem colorida. Ao mesmo tempo, sendo uma data móvel dependente do dia da Páscoa, não perde a sua ligação com o mistério pascal, centro da fé cristã.
Quando Urbano IV oficializou a comemoração, pediu a santo Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos do seu tempo e da história da Igreja, que compusesse os textos do ofício litúrgico da solenidade. Usados até hoje, são largamente difundidos e alimentam a fé dos fiéis. Segundo o papa Bento XVI, “são obras-primas em que se fundem teologia e poesia”.
Corpus Christi e o estado laico
A noção de feriado, isto é, de um dia comemorativo em que não se trabalha, vem do âmbito religioso. Já entre os romanos eram dias de festa que, cumprindo a função de demarcar a passagem do tempo, se referiam a divindades. No cristianismo, têm uma função clara: dispensar o fiel da obrigação do trabalho para que possa participar da missa em um dia importante do calendário da Igreja. Por isso, a existência de feriados religiosos não fere a laicidade do Estado, que apenas garante com isso o direito do fiel participar da vida da sua religião. Por que hóstias sem trigo são inválidas para a comunhão na Igreja Católica Foi só com a Revolução Francesa, no final do século XVIII, que o modelo foi adotado fora da esfera religiosa: o 14 de julho, dia da Queda da Bastilha, se tornou o primeiro feriado de natureza civil. Lentamente, foram se estabelecendo outras datas, como o dia 1º de maio como Dia do Trabalhador, adotado em diversos países na segunda metade do século XIX.
Por: Nascimento Super
Fonte: Família Católica